sábado, 22 de abril de 2017

A ESPIRITUALIDADE DA VOZ

Técnica e cientificamente não existe espiritualidade na produção da voz humana. Mas, quando comecei a receber em minha sala de aula muitos alunos evangélicos, tive que mudar minha didática para conseguir ajudá-los da melhor forma possível pois é isso que tenho que fazer como professora de canto que trabalha com a técnica do Bel'Canto, ajudar qualquer aluno, e fazer com que qualquer corpo se torne um instrumento musical perfeito.

Não dou importância ao estilo do aluno, mas tento da maneira mais eficaz possível, fazer com ele consiga cantar e usufruir de toda a capacidade de produção sonora de seu corpo, dentro do seu estilo preferido. Não há técnica de canto para canto popular ou canto erudito. A técnica de canto não pertence à algum estilo, mas ela pode ser trabalhada para qualquer estilo que se queira produzir som. A técnica sempre será a mesma, o que vai mudar são os registros vocais usados para se produzir o som necessário para se cantar qualquer estilo musical.

Então, quando esses alunos evangélicos começaram a chegar aos montes para fazer aula comigo, me vi perdida pois vi que só a técnica não estava resolvendo nem ajudando-os. Durante uns seis meses procurei solucionar seus problemas vocais somente usando o Bel'Canto e a Técnica Alexander, mas não funcionou. Não desesperei-me pois sempre acho uma solução. Mas confesso que fiquei apreensiva. E comecei a meditar sobre a voz e o corpo dos meus alunos. procurei encontrar soluções de todas formas.

Um belo dia, enquanto ouvia áudios com a voz de alguns alunos, os que mais estavam com dificuldades, me veio uma ideia louca à cabeça. Eles não eram alunos de canto erudito nem de canto popular, eles eram cantores que cantavam para o louvor de Deus, e suas vozes estavam sem espiritualidade, pois sendo eles todos evangélicos, o maior universo de suas vozes, estava em seus próprios espíritos.

Imediatamente comecei uma pesquisa dentro da Bíblia para encontrar informações escatológicas que me fizessem entender e discernir melhor o que eles precisavam para louvarem a Deus com conhecimento e discernimento do estavam fazendo. O que eles buscavam e precisavam não era só técnica. Mas sim, despertar a espiritualidade de suas vozes. Eles desejavam ter unção, ou seja, poder que emanasse de vozes quando cantassem. Mas, para que esse poder, a unção, fluísse de suas vozes, era necessário despertar seus espíritos, que mesmo sendo religiosos, estavam mortos.

Comecei então a levá-los aterem conhecimento e discernimento de seus próprios espíritos, coisa que nunca havia se quer passado pela minha cabeça que seria possível. Eles entenderam perfeitamente o que deveriam fazer, e entraram junto comigo na busca pela espiritualidade de suas vozes. Com menos de dois meses, todos eles comeram a arrepiar dentro de sala de aula, pois começaram a sentir um poder fluindo de seus espíritos dando mais energia ao seus corpos para produzirem mais som e com uma beleza divina.

A primeira coisa que fiz, foi eliminar toda e qualquer influência sonora, ou seja, imitações de vozes de outros cantores pois os evangélicos e os sertanejos, são os que mais estão distantes de suas próprias vozes, pois não conhecem as nuances de suas próprias vozes, pois também não conhecem seus corpos, e pensam na voz como algo externo e fora da realidade corporal. Por isso, nunca conseguem fazer fluir sua energia espiritual através de suas vozes. Mas, quando eles entenderam que não era a voz nem o corpo, mas sim, o espírito que deveria produzir, no caso deles especificamente, o som para louvarem a Deus, eles entenderam que suas vozes nasciam primeiro em seu espírito, que enviava a ideia do som e a energia necessária para que o corpo produzisse com perfeição o som vocal,  e então, a unção, o poder, fluía de suas vozes como energia elétrica pois estavam emanando a personalidade da voz à partir das realidades espirituais de cada um.

Foi um trabalho lindo que ainda escreverei mais a respeito. Aguardem os próximos posts sobre esse assunto!


segunda-feira, 17 de abril de 2017

O FALSETE

Não acreditem na MC Melody que diz cantar com falsete. Criança não tem falsete, tanto faz ser menino ou menina, são todos sopranos. Mulher não tem falsete. Pois, tudo que produz o corpo de uma mulher de som é registro puro. Homens com dualidade vocal como os barítonos que nascem com o registro de contra tenor, também não possuem falsete, mesmo quando ultrapassam os limites de sua extensão vocal, continuam produzindo um registro vocal e não falsete, mesmo que esse som se assemelhe ao som de um falsete (Agudo e sem dinâmica (poder de aumentar e diminuir o volume do som da voz)).

Um caso raro de dualidade vocal, e também de ausência do falsete, acontece numa exceção de uma regra, quando a dualidade vocal aparece num registro de tenor, que já é raro só por ser o registro mais agudo masculino, e permite a esse tenor, possuir um registro tão raro, que só aparece entre um a cada um bilhão de homens, chamado registro de sopranista. Este registro ultrapassa em quase duas oitava o registro de um soprano feminino, tamanha a capacidade de extensão vocal que esse registro de sopranista possui, e ele também não possui falsete.

O falsete é uma capacidade de produzir um som semelhante ao de uma flauta, com um pouco mais harmônicos brilhantes e metálicos, o que o faz soar mais agudo e brilhante, mas não possui capacidade de domínio do volume do som, e que é produzido por cordas vocais falsas, que são na realidades dois músculos que se assemelham às cordas vocais verdadeiras, que quando tensionadas, conseguem produzir um som extremamente agudo.

O cuidado no uso do falsete é para não se contrair demais  esses músculos pois irritam muito rápido e facilmente. O cantor deve procurar deixar a região superior da laringe, mas gosto de dizer que a região embaixo da língua, pois a sensação de produção do falsete é de contração nessa região, e que deve ser eliminada para uma maior naturalidade no uso do falsete.

O som do falsete é extremamente estridente, mas que com uma boa mudança na impostação desse som, para a região do céu da boca e seios nasais, e não na laringe como costuma-se impostar esse som, ele adquirirá um som mais redondo e volumoso, podendo o cantor explorar então, regiões mais agudas da extensão do falsete.

Outro cuidado que deve-se tomar, é com a articulação quando se estar cantando com o falsete para não se prejudicar a articulação e a dicção do texto, prejudicando assim não só a emissão do falsete como também a compreensão textual por parte do ouvinte. Outro cuidado que deve-se tomar é com o volume dele, pois sendo um falsete um som vocal falso, é quase que um vício não se ter volume e preocupar-se mais com as notas agudas com que com a beleza do som.

Homens com o registro de baixo sempre possuirão o falsete, e barítonos que não possuam a dualidade vocal também sempre possuirão o falsete, como também tenores sem a dualidade vocal sempre terão o falsete. Como o assunto é extenso, escreverei mais a respeito depois em outros textos pois acho que serão necessários uns quatro.









quinta-feira, 6 de abril de 2017

A TRANSSEXUALIDADE DA VOZ

Minha voz sumiu durante um ano quando me descobri transsexual. Fiquei enlouquecida. Imagina o que é para um cantor lírico que estudou durante uns dezesseis anos de sua vida técnica vocal,  perder a voz? Não me matei porque sou narcisista demais  para ter coragem pra fazer isso comigo. Mas entrei em frenesi procurando como resolver meu problema vocal. Apelei primeiro todo tipo de técnica, até mesmo as que não originavam do Bel'Canto, numa tentativa desesperada para recuperar minha voz.

Quando a técnica falou, eu apelei para a macumba mesmo. Fiquei doida de vez porque já estavam se fazendo seis meses que eu não conseguia cantar um único chiado sequer. Quando tentava cantar, minhas cordas vocais doíam tanto, que parecia que estavam arrebentando e alguém estava passando pimenta nelas.

Me isolei de todo mundo durante um ano, não queria que ninguém soubesse que eu estava sem voz, dentro de sala, evitava cantar, e comecei a desenvolver melhor minha comunicação com meus alunos para que não houvesse nenhuma necessidade de eu ter que cantar para demonstrar a produção de qualquer som cantado que fosse.

Fiquei um ano ficando dentro de casa quase todos os dias, pois sempre saio e bebo, adoro cantar para as pessoas, quando elas querem ouvir, claro. E como eu iria cantar sem voz? Por sorte, ainda possuía minha voz falada, e podia falar com meus amigos e alunos. Até que dia resolvi procurar alguém da umbanda para ver se conseguia alguma informação, ou mesmo algum trabalho que pudesse me ajudar a recuperar minha voz cantada.

Assim que chegamos no local onde uma amigo estava levando-me para conversar com uma mulher, que segundo ele, era uma grande mãe de santo, fomos surpreendidos por ela logo no portão, convidando-nos para irmos em outro local porque quem queria falar comigo não era ela, e sim uma entidade, que havia lhe dito para que levasse-me imediatamente para sua casa. Ela parecia-me assustada e pálida com aquela situação.

Eu olhei para meu amigo e apertei sua mão, na época, eu ainda não havia assumido minha espiritualidade, então, não conseguia discernir muita coisa, e também evitava para não me colocar novamente naquele redemoinho de manifestações metafísicas que tinha vivido durante muito tempo desde de criança, e que a muito custo, tinha conseguido me isolar delas, e podido estudar para seguir minha carreira de cantor erudito, na época. Ele simplesmente disse-me para que ficasse tranquila pois a mulher era poderosa espiritualmente.

Quando adentramos na casa da entidade, eu pude sentir que uma energia muito estranha estava ali, ela já pegou-me e rodou-me já abençoando-me como mulher, e dizendo que não tivesse medo porque minha voz iria voltar assim que a mulher em mim se revelasse por completa. Disse-me também que como homem eu nunca cantaria e soltaria a voz que possuo, mas que como mulher eu cantaria com um som monstruoso. E que eu me tornaria mais mulher a cada dia, e que isso iria doer, mas iria transformar a mim e a minha voz.

Ela não me conhecia nem meu amigo passou qualquer informação a ela sobre minha situação. Ele é muito mais desconfiado do que eu. Por isso, dentro de mim, eu sabia exatamente o que significava aquelas palavras. Toda uma personalidade estava morrendo, e com ela sua voz, e outra estava nascendo e com ela estava vindo sua própria voz. De alguma forma aquelas palavras trouxeram alívio ao meu coração. Voltamos para casa felizes por aquilo, e olha que nunca imaginei ir num terreiro para saber alguma coisa sobre minha voz.

A partir dali, eu passei a descansar de mim mesma e de minha voz, e desisti de minha carreira de cantor e parei também de cantar, perdi o encanto e prazer pelo meu canto, e dediquei somente ao ensino da técnica, o que acabou me ajudando a aprofundar-me bastante no conhecimento e domínio da Técnica Alexander e Bel'Canto. Vi o horizonte enorme que estava abrindo-se para mim como professora de canto, e o abracei seu medo ou remorso, por ter aberto mão do sonho que fez me sair das entranhas da mata amazônica.

sábado, 1 de abril de 2017

VOZ DE PEITO OU VOZ DE CABEÇA?

Nenhuma das duas existe. Isso é um conceito errôneo e falso. O que há de verdade, é ressonância de peito e ressonância de cabeça. Essa classificação que muito se ouve falar da voz, é fruto do fato de ela não vir de uma escola de canto, como é o caso do Bel'Canto, que permiti ao cantor experimentar toda a totalidade de sua voz através de regiões de ressonância, ósseas, cartilaginosas e cranianas, o que não classifica a voz como dali ou daqui, mas sim como um funcionamento perfeito do corpo, amplificando o som da voz através de caixas ressonadoras naturais do mesmo, e esse efeito é a  ressonância sonora da voz, o processo pelo qual o cantor faz sua voz soar até o ouvinte.

A ideia de que existe !voz de cabeça e voz de peito", faz com que tenhamos a impressão de que existe duas vozes, o que não é verdade. Aliás, um dos objetivos buscado no treinamento do corpo para o canto, e que também o Bel'Canto se propões a fazer e faz, é eliminar as quebras vocais (falhas que existem entre um registro e outro, ou entre as regiões de passagens  dos registros, ou também, nas regiões de passagens da região médio aguda da voz para a região aguda.), é uma pequena falha no som quase que imperceptível, mas que para nós do Bel"Canto, significa que o cantor não conhece sua personalidade vocal e também não tem noção nenhuma da sensação física de produção da sua voz.

Não perceber a sensação física de produção da voz significa desconhecer sua própria personalidade vocal, o que indica que a atual voz que está sendo produzida pelo cantor é falsa, e com certeza sua impostação vocal está errada, e que talvez o som vocal que esteja soando seja apenas uma imaginação sonora (uma referência de som e melodia que não coadunam com a personalidade vocal verdadeira do cantor), uma cópia de outra voz, de outro cantor ou cantora, e que está distante da realidade fisiológica do próprio corpo, e que por sua vez, impede que o cantor goze de uma produção vocal confortável e bela.

A ressonância de cabeça, erroneamente chamada e conhecida de "voz de cabeça", é quando o som vibra nos ressonadores superiores, ou seja, nas cavidades cranianas, pequenas conchas acústicas existentes nos ossos do crânio, e que são os melhores ressonadores, amplificadores naturais do corpo, e que fazem uma enorme diferença no som vocal quando usados. Mas, seu uso não é tão simples de se alcançar, pois para o som vocal vibrar neles, é necessário que o corpo esteja funcionando perfeitamente, e que sua postura seja perfeita, o que pode ser alcançado com a técnica Alexander, que é a que corrigirá todo e qualquer problema de postura, os piores inimigos de um belo som.

A ressonância de peito, vulgarmente conhecida como "voz de peito", é quando o som vocal é amplificado pelo osso do peito, principalmente o externo, o osso do meio do peito, que por sua vez, é a mais potente caixa de amplificação da voz, e a única que pode valorizar e amplificar notas tão graves, que permitem a ressonância e amplificação de harmônicos sonoros da voz, que facilitarão a produção de notas agudas, que a medida que o cantor alcançar notas cada vez mais graves, mais ele produzirá notas agudas com muita facilidade e sem sofrimento, porque esses harmônicos produzirão sensações físicas de ressonância no momento da produção vocal, que facilitarão a impostação de notas agudas nessa mesma região de ressonância, permitindo ao cantor explorar sem agredir seu aparelho, a totalidade de sua extensão vocal.

Essas duas regiões de ressonância devem ser unidas durante a produção da voz, ou seja, não deve haver quebra no som da voz, as famosas falhas, que acontecem quando o cantor não domina a técnica da impostação vocal, pois o domínio dela dá ao cantor a capacidade de sair de uma região de ressonância para outra, no caso aqui tratado, seio frontal e osso externo do peito, sem deixar a voz quebrar, sem deixar a voz falhar quando mudar de ressonador. Isso só é possível desenvolvendo-se a percepção por parte do lado analítico do cérebro, da sensação que acontece no corpo do cantor, quando ele mudar de região de ressonância, isso também é uma mudança na impostação da voz, técnica usada para se conseguir diferentes nuances no timbre e som da voz.

Todo bom cantor que se preze, vela por uma mudança de impostação sem quebra nenhuma na voz. Pois não só é feio esteticamente como também é indicação de que ele não possui técnica ou foi mal treinado. Pois quando o cantor consegue dominar e conhecer seu corpo, principalmente durante a produção da voz, obviamente conduzirá bem o funcionamento do seu corpo quando for movimentar-se para mudar a impostação da voz, ou seja, mudar sua região de ressonância, fazendo com que a voz passe de uma para outra sem mudar seu som ou característica no seu timbre. Mas, quando se consegue fazer e não fazer algo com o corpo para produzir a voz, tem-se técnica, e isso lhe dá poder para quebrar ou não a voz, nasalizar ou não a voz, isso é canto.

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A criação é possível através da imaginação, depois, tudo tornar-se energia e ciência.