Minha mestra de canto, Norma Silvestre, não cansava de falar para eu manter o prazer de cantar. Ela dizia que o prazer de cantar faz com que você, o próprio cantor, tenha um gozo individual durante a produção de seu som vocal, enquanto se está cantando. "Não perca o prazer de cantar, se não você também não conhecerá sua voz!" era assim que ela falava.
Mas, a ansiedade de um cantor jovem, apressado e preocupado mais com a extensão vocal do que com a qualidade da voz, fazia-me ignorar o tempo todo essa frase. Meus objetivos estavam focados para um maior alcance vocal, tanto para o agudo quanto para o grave, e não me deixavam ver o conhecimento e verdade intrínsecos nessa frase.
No entanto, quando descobri-me transexual, perdi o prazer de cantar. Não havia mais em mim prazer pela minha voz. Não havia mais voz em mim. Produzir som tornou enfadonho para meu corpo. Meu corpo não produzia mais a energia necessária para que minha voz soasse com beleza e volume como era de costume. Minha voz tornou-se irritante para mim. Dava-me calafrios cantar. Fiquei com raiva de minha voz. Como poderia odiar o que mais amo em mim? O quê está acontecendo comigo?
Passaram-se anos, e isso permaneceu até que esqueci que cantava. Mas, o que mais me doía quando refletia sobre minha atual condição física, era lembrar da voz e da frase que Norma Silvestre falava-me sempre terminávamos de fazer minha aula de canto "Não perca o prazer de cantar, se não você também não conhecerá sua voz!".
Como eu posso ressuscitar o prazer de cantar em mim? Era a indagação que passava por meus pensamentos vinte e quatro horas por dia. Minha voz havia retornado, mas meu timbre estava sem brilho e sem beleza, completamente sem vida. Minha voz tornou-se estridente e esganiçada. Perdi o aveludado e a dinâmica do meu som. Tudo que era belo das nuances da minha voz desapareceu. Ficou somente um som sem beleza alguma, um som de apito.
Não conseguia mais treinar nem cantarolar. Somente minha voz falada permaneceu sendo usada por mim. Meu corpo só conseguia produzir energia para falar, pois nem para gritar ele produzia mais energia suficiente. Tive que abster-me de mim mesma para não sofrer mais do que já estava, evitando assim, dar conhecimento ao meu cérebro do que estava acontecendo com meu corpo, e principalmente com minha voz.
O cérebro de um cantor erudito é treinado para observar e perceber seu corpo, isso quando o cantor faz parte da escola do Bel'Canto, e se eu deixasse isso acontecer, meu cérebro iria potencializar aquela sensação e produziria um trauma emocional, que por sua vez seria o cadeado indestrutível que trancaria definitivamente meu corpo para a produção da voz cantada. Então, evitei cantar enquanto meu prazer de cantar não retornava. Assim, evitei durante anos um trauma mais profundo, evitando levar meu corpo ao estresse na tentativa exaustiva e enfadonha de produzir som vocal com força e não com energia, que é como nós cantores do Bel'Canto produzimos som vocal.
Mas, a ansiedade de um cantor jovem, apressado e preocupado mais com a extensão vocal do que com a qualidade da voz, fazia-me ignorar o tempo todo essa frase. Meus objetivos estavam focados para um maior alcance vocal, tanto para o agudo quanto para o grave, e não me deixavam ver o conhecimento e verdade intrínsecos nessa frase.
No entanto, quando descobri-me transexual, perdi o prazer de cantar. Não havia mais em mim prazer pela minha voz. Não havia mais voz em mim. Produzir som tornou enfadonho para meu corpo. Meu corpo não produzia mais a energia necessária para que minha voz soasse com beleza e volume como era de costume. Minha voz tornou-se irritante para mim. Dava-me calafrios cantar. Fiquei com raiva de minha voz. Como poderia odiar o que mais amo em mim? O quê está acontecendo comigo?
Passaram-se anos, e isso permaneceu até que esqueci que cantava. Mas, o que mais me doía quando refletia sobre minha atual condição física, era lembrar da voz e da frase que Norma Silvestre falava-me sempre terminávamos de fazer minha aula de canto "Não perca o prazer de cantar, se não você também não conhecerá sua voz!".
Como eu posso ressuscitar o prazer de cantar em mim? Era a indagação que passava por meus pensamentos vinte e quatro horas por dia. Minha voz havia retornado, mas meu timbre estava sem brilho e sem beleza, completamente sem vida. Minha voz tornou-se estridente e esganiçada. Perdi o aveludado e a dinâmica do meu som. Tudo que era belo das nuances da minha voz desapareceu. Ficou somente um som sem beleza alguma, um som de apito.
Não conseguia mais treinar nem cantarolar. Somente minha voz falada permaneceu sendo usada por mim. Meu corpo só conseguia produzir energia para falar, pois nem para gritar ele produzia mais energia suficiente. Tive que abster-me de mim mesma para não sofrer mais do que já estava, evitando assim, dar conhecimento ao meu cérebro do que estava acontecendo com meu corpo, e principalmente com minha voz.
O cérebro de um cantor erudito é treinado para observar e perceber seu corpo, isso quando o cantor faz parte da escola do Bel'Canto, e se eu deixasse isso acontecer, meu cérebro iria potencializar aquela sensação e produziria um trauma emocional, que por sua vez seria o cadeado indestrutível que trancaria definitivamente meu corpo para a produção da voz cantada. Então, evitei cantar enquanto meu prazer de cantar não retornava. Assim, evitei durante anos um trauma mais profundo, evitando levar meu corpo ao estresse na tentativa exaustiva e enfadonha de produzir som vocal com força e não com energia, que é como nós cantores do Bel'Canto produzimos som vocal.
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